6 de junho de 2011

Grupos antivacinação fazem casos de doenças como sarampo e rubéola aumentarem

Notícias
Seg, 06 e junho de 2011



A Europa retrocedeu uma década na luta contra doenças como o sarampo e a rubéola, quase erradicadas na virada do século e que hoje voltam a causar grandes surtos comunitários, afirma reportagem do "El Pais". A Espanha, que só sofreu com dois casos de sarampo em 2004, acumula mais de 1300 só este ano, cinco vezes mais que todos os de 2010. O ressurgimento pôs as autoridades de grande parte do continente em alerta: na França, por exemplo, morreram seis pessoas e mais de 300 sofreram de pneumonia grave entre os mais de cinco mil afetados.
A queda na cobertura da vacina está na origem do aumento da incidência das velhas doenças infecciosas, alerta o Centro Europeu para a Prevenção e o Controle de Doenças, agência da União Europeia com sede em Estocolmo, na Suécia. Quem se nega a vacinar seus filhos não é só a população marginalizada, mas também famílias com bons níveis sociais que adotam estilos de vida naturalistas, que rejeitam os produtos da indústria farmacêutica como uma forma de militância.
A vacina tríplice viral (sarampo, rubéola, caxumba) é aplicada em duas doses, uma aos 15 meses e outra aos três anos. Os especialistas estimam que para frear sua transmissão é necessária uma cobertura infantil de mais de 95%. Na Espanha, a cobertura da primeira dose é elevada, mas baixa na segunda: 87% em Andaluzia, 83% em Madri e 92% na Catalunha. Isso facilita a expansão do vírus para as esferas das população não protegidas, formadas por dois grandes grupos. O primeiro é de filhos de famílias que não se vacinam, por ideologia ou negligência. O segundo é formado pela população adulta de 25 a 40 anos, que cresceu quando não existia a vacinação universal e não ficou doente quando pequena.
Andaluzia foi a região mais castigada, com 541 casos de sarampo.
- O surto começou em Sevilha, em uma comunidade marginal com muitas crianças sem vacina - explica José María Mayoral, chefe do serviço de epidemiologia. - Logo se estendeu aos bairros da capital.
Diante da virulência do surto, que causou cerca de cem internações, as autoridades incorporaram uma dose de vacina aos seis meses nos locais onde ocorreram os casos e adiantaram a primeira dose para os 12 meses para todos as crianças, algo que também fizeram Canárias e Catalunha.
Na Catalunha, segunda em números de casos, os infectados se concentram na cidade e província de Barcelona.
"O surto surgiu na área de Vallès e passou despercebido", explica Pere Godoy, chefe de epidemiologia da governo. O atraso no alerta facilitou a chegada dos casos a Barcelona.
"A pouca familiaridade dos médicos jovens com a doença dificulta seu diagnóstico", disse Domingo Núñez, diretor do serviço de epidemiologia de Tenerife, onde ocorreu um caso.
Assustado com o aumento de casos de doenças como o sarampo, o governo da Catalunha fará os pais que não vacinam seus filhos assinar um documento onde consta que conhecem os riscos de tal atitude. Ainda que na Espanha elas sejam minoria, em países como o Reino Unido as decisões desses pais tiveram um grande impacto na saúde pública.
A publicação em 1998 de um artigo científico que vinculava a tríplice viral com o autismo causou uma queda na taxa de cobertura da vacina abaixo dos 80% em 2004. Ainda que a própria revista "Lancet", uma das publicações científicas de melhor reputação no mundo, tenha retirado o artigo porque o autor falsificou dados, os ativistas continuam citando-o para alertar contra as vacinas. Para Lua Català, pediatra, homeopata e simpatizante da Liga para Liberdade de Vacinação, a retirada do artigo de Andrew Wakefiled da revista não é mais que uma prova dos interesses obscuros das empresas farmacêuticas.
Apesar dos grandes surtos acabarem sempre em altos índices de hospitalização (e mortes em alguns casos), Català defende que as doenças infantis que podem ser prevenidas são "benignas". E acrescenta que "as vacinas fazem as pessoas ficarem doentes e causam sintomas mais graves que as doenças que tentam prevenir".
David Moreno, da Associação Espanhola de Pediatria, refuta esta ideia:
- Em apenas 5% dos casos, a vacina do sarampo produz febre moderada que dura um ou dois dias. A doença dura uma semana, com 39º ou 40º de febre. Em 5% dos casos, produz pneumonia, e em 10%, otite. Em países pobres, a mortalidade está entre 5% e 10%.
Os espanhois Marcel Bartomeus e sua parceira, Gemma Solanas, decidiram não vacinar seu bebê, de sete meses. Ele acredita que as doenças infantis transmissíveis "reforçam o sistema imunológico", e portanto não há motivo para tentar prevení-las.
- Eu corro um risco ao não vacinar, mas os que vacinam também correm, e ninguém lhes explica isso.
Para José María Bayas, presidente da Sociedade Espanhola de Vacinologia, as pessoas como Marcel estão provocando "um atraso importante na eliminação de doenças como o sarampo".

Fonte: Pernambuco

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